quarta-feira, 30 de março de 2016

Cuba se liberta com os Stones



ROLLING STONES EM CUBA

Cuba se liberta com os Stones

Crescem as expectativas diante do ciclone que acabará com a dívida da Revolução com o rock


PABLO DE LLANO
25 MAR 2016 - 08:38 COT





A chegada dos Stones em Havana. GETTY | VÍDEO: SILVIA AYUSO / QUALITY
“Me chamam de Rocky”. Com sua cabeleira de quatro anos, uma faixa de pirata e uma chave, que encontrou em uma rua de Havana Velha, pendurada em uma orelha, Rocky, 22 anos, foi o primeiro a acampar no local onde os Rolling Stones se apresentarão nesta sexta-feira pela primeira vez na história de Cuba, em um show gratuito com o qual a banda britânica encerrará na noite desta sexta-feira o seu Olé Tour 2016. Ele chegou ali às dez horas da manhã da quarta-feira, 60 horas antes do concerto, com pão, biscoitos e dez litros de água. Quer ouvir Mick Jagger e Keith Richards com o peito colado no palco, roçando no metal da grade de proteção a camiseta dos Stones que guarda por enquanto dentro da mochila, para vesti-la perto das oito da noite, hora marcada para o início, como uma túnica sagrada da juventude eterna. “Não gostaria de ficar surdo, mas estou disposto a perder um pouco da audição só pela emoção de estar o mais próximo possível deles”, explica.
O trono de Suas Satânicas Majestades já está pronto. Um palco enorme com uma decoração iluminada com cores afro-cubanas, sinal muito valorizado de respeito a suas majestades os orixás, os deuses iorubás da Pérola das Antilhas. Quatro colunas frontais de autofalantes e oito torres de repetição de 20 metros espalhadas pelo gramado emitirão um ciclone de watts tão poderoso que se poderia dizer que se houver vento em direção norte a voz de Jagger entrará diretamente pelas janelas das casas de sua família em Miami.
I can’t get no satisfaction
And I try and I try and I try...
“Nós, cubanos, vamos ficar alucinados. Você vai ver isso antes mesmo do primeiro acorde. Com os primeiros fogos as pessoas já vão ficar completamente loucas, porque nunca ninguém aqui viu na vida um espetáculo visual como este”, previa o cineasta Eduardo del Llano, velho roqueiro havanês, às quatro da tarde de quarta-feira no Submarino Amarelo, um bar que homenageia os Beatles criado pelo Ministério da Cultura onde se tocavam versões de rock com o mesmo envolvimento como se fosse meia-noite de um sábado dos anos sessenta.
Ao seu lado estava o guitarrista Dagoberto Pedraja, nascido em 1957, dois anos antes da vitória da Revolução e que vinte anos depois, quando arranhava seusriffs com os cabelos compridos no El Malecón, era chamado de “maricas, pró-ianque e até um termo curioso inventado aqui: diversionista ideológico”.



O palco onde tocarão os Rolling Stones em Cuba. Raúl Abreu


Para explicar por que o jovem Pedraja era chamado dessas coisas, basta recordar um trecho de um discurso de Fidel Castro de 1963: “Muitos desses moleques vagabundos, filhos de burgueses, andam por aí com umas calcinhas apertadas; alguns deles com uma guitarra em atitudes elvispreslianas, e levaram a sua libertinagem tão longe que pretendem até poder organizar seus shows ao ar livre em locais de grande frequentação de público”.
Com o socialismo cubano em processo de abertura, o temporal dos Stones surge para acabar com as dívidas da Revolução com o rock e com a autonomia cultural dos jovens, banidos pelos radicalismos obtusos dos anos sessenta e setenta que reverberavam até a virada do século sem desaparecer totalmente.



Rocky, o primeiro acampado no palco dos Stones em Havana RAÚL ABREU


“Quando eu tinha 13 anos”, conta o músico Alexander Martínez, 26, “um amigo copiou para mim o meu primeiro Grandes Sucessos dos Rolling Stones. Em toda a ilha, não havia nenhuma loja estatal onde se pudesse comprar um disco original deles”. Martínez, que toca guitarra com seu braço esquerdo amputado, disse que ainda guarda aquele CD de iniciação cheio de fungos. E morre de ansiedade para que chegue logo o dia do concerto. “Eles vêm de lá de trás, mas estão abrindo para nós as portas do futuro”.
Dagoberto Pedraja diz que a música anglo-saxônica entrou em seus ouvidos com as melodias dos “desenhos animados ianques” que assistia quando criança; que a cultura “deles”, por mais censurada que fosse, sempre esteve presente; e que ver os Stones desembarcarem na ilha depois de tanto tempo “é como aquela história do professor que, depois de ficar um tempo preso, retorna e diz aos seus alunos: “Como estávamos dizendo ontem...”.


MICK JAGGER ME DEU FIRMEZA!


Na quarta-feira, o café Bertolt Brecht fechou uma noite eufórica de homenagens aos Stones com La Gazadera, uma canção da banda de reggae Gente de Zona. A canção, sucesso latino internacional, é ouvida aqui por todos os lados e começa dizendo: Miami me lo confirmó! (Miami me deu firmeza!). “É o novo hino de Cuba!”, decretou um jovem havanês enquanto dançava levado por algumas doses de rum a mais. Este reggae é o mais popular neste momento na ilha. Por outro lado, na música mais sofisticada, florescem o fusion e o jazz. Mas não se pode descartar que em Cuba, tão apegada a sincretismos, o novo estribilho depois dos Stones seja: Mick Jagger me lo confirmó!




Hemingway, a antítese

Ernest Hemingway

HEMINGWAY, A ANTÍTESE

POR EDGARD FALCÃO
Bebeu em bares de muitas cidades do mundo como Paris, Veneza, Havana, Key West, Madrid, Cairo, entre outras..., sobreviveu a dois acidentes aéreos...
A Síndrome do meio, surfar a onda, estar contra...
Aqui Ernest Hemingway nunca bebeu...

Hemingway a antitese.jpg
Estava lendo a biografia de Ernest Hemingway, escritor, aventureiro, viajante, bon-vivant.
Bebeu em bares de muitas cidades do mundo como Paris, Veneza, Havana, Key West, Madrid, Cairo, entre outras...
Esteve no Egito e sobreviveu a dois acidentes aéreos, o primeiro em um voo panorâmico que fazia junto com sua esposa, o avião caiu e eles aguardaram o socorro. O outro avião que os resgatou no dia seguinte veio a cair também, novamente sobreviveram, perdidos na savana, com cheiro de sangue salvaram-se de hienas, leões e outros carniceiros. Sinal de que, talvez, muito viveria se não viesse a se suicidar em 1961.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Mulheres / Micael Schaefer





MULHERES
Micaela Schaefer





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O futuro incerto dos novos autônomos de Cuba

Bandeiras dos EUA e Cuba no show dos Rolling Stones em Havana.  Getty Images


O futuro incerto dos novos autônomos de Cuba

Os 500.000 que trabalham por conta própria enfrentam a abertura com esperança e dúvidas



SILVIA AYUSO
Havana 28 MAR 2016 - 07:58 COT


Quando Pepe fala em liberdade, pensa sobretudo na econômica. “Queremos poder comprar o que precisamos para nossos negócios”, diz este massagista que trabalha como cuentapropista (autônomo) em Havana. Para Luis, a liberdade deveria ir além.“Gostaria de poder dizer o que penso sem medo”, afirma. Ao seu lado, Orlando explica: “Falta para nós a oportunidade de escolher os que nos governam”. Orlando (nenhum dos entrevistados quis dizer seu nome completo) tem um emprego público como vigilante pelo qual recebe cerca de 20 dólares por mês (pouco mais de 70 reais). Luis, assim como Pepe, écuentapropista, a palavra da moda nesta Cuba que não sabe ainda se é tão nova ou se recebeu apenas uma mão de pintura reformista.
Há quem sinta grande esperança e entusiasmo pela possibilidade de buscar seu futuro, pela primeira vez longe da sombra do Estado. Os autônomos, esse setor no qual os Estados Unidos apostaram ao determinar a mudança de rumo em sua política em relação a Cuba, já são pelo menos meio milhão na ilha.

Ajudar era perigoso

Luis é um desses cuentapropistas, mas tem sentimentos confusos. Afinal, diz, faz o que já fazia há muito tempo: ajudar os turistas a encontrar “o melhor paladar” (pequenos restaurantes privados) ou locais mais escondidos. Só que até há pouco tempo, aproximar-se dos estrangeiros e oferecer-lhes seus serviços informais como guia era perigoso — no passado, custou-lhe uma condenação de quatro anos de prisão. Agora, conta com uma certa amargura, lhe deram um papel que legitima seu status de operador turístico como autônomo. Em troca de uma taxa substancial para os cofres do Estado, diz com um sorriso torto.
visita de Obama a Havana deixou um gosto estranho. Foi a primeira de um presidente norte-americano em quase um século. Na única vez anterior, em 1928, a Cuba atual não era sequer pensada, mas esta nova viagem não deixou totalmente claro tudo que Cuba projeta para o futuro.
Quando Obama e o presidente cubano, Raúl Castro, anunciaram em 17 de dezembro de 2014 o início da normalização de relações, a ilha entrou em festa. De repente, a bandeira norte-americana, durante décadas oficialmente vilipendiada, era o enfeite mais desejado. Mas quando Obama chegou a Havana foi preciso procurar muito para encontrar uma bandeira norte-americana fora dos lugares oficiais de protocolo.
Dirigiu-se a todos os cubanos em um discurso retransmitido ao vivo, sem censura, por rádio e televisão. No entanto, nas cadeiras do Gran Teatro Alicia Alonso, os aplausos de um público selecionado pelas autoridades cubanas foram comedidos. Passado o furacão Obama e recolhidos os contingentes de forças de segurança que guardaram as ruas de Havana durante dois dias, as camisetas, calças e vestidos com as listras e estrelas ressurgiram nas ruas.
Pepe, o massagista, atribui à “moral dupla” que há anos permeia a sociedade cubana. Essa história de dizer uma coisa em público e fazer exatamente o contrário em particular é um conceito tão cubano quanto o “almendrón” (os velhos táxis coletivos) ou o “não é fácil” que Obama repetiu com tanto gosto durante sua estadia em Cuba. Mas nem todos que defendem o sistema o fazem apenas para guardar a tradição. Há muitos, inclusive jovens, que afirmam estar orgulhosos das conquistas de um país que lhes garantiu — da melhor ou da pior forma, conforme a quem se peça opinião — serviços como educação e saúde gratuitas, e que não querem que Cuba se lance de cabeça a um sistema capitalista desigual. Acreditam que o sistema atual é passível de aperfeiçoamento, sim, e não querem necessariamente trabalhar contra ele, mas melhorá-lo.

“Tudo se encaixa”

Na sexta-feira passada, os Rolling Stones voltaram a fazer história ao dar seu primeiro show em Cuba. Muitos dos que assistiram sequer conheciam suas músicas, mas não importava. A presença de suas satânicas majestades teve um significado muito além do musical: assim como os Beatles, os Rolling Stones foram proibidos durante anos em Cuba.
“Sabemos que anos atrás era difícil ouvir nossa música em Cuba. Mas aqui estamos”, afirmou em espanhol Mick Jagger. “Acho que finalmente os tempos estão mudando, não?”, acrescentou o cantor britânico entre aplausos.
“Tudo tem a ver, tudo encaixa”, concordava no público o habanero Jorge Ravelo, vestido com uma camiseta de Obama “da época da reeleição”. “Não há ocasião melhor para vesti-la”, afirmou. “Cuba está se abrindo para o mundo e, o mais importante, o mundo está se abrindo para Cuba. Agora é Obama, os Rolling Stones e antes foi o Papa”.

sexta-feira, 25 de março de 2016

“Eu cobrava 8000 reais por programa”, diz Viviane Brunieri, ex-Ronaldinha xlisto




“Eu cobrava 8000 reais por programa”, diz ex-Ronaldinha


quinta-feira, 24 de março de 2016

Quando o fotógrafo Dennis Stock se encontrou com James Dean

James Dean

Quando o fotógrafo Dennis Stock se encontrou com James Dean


No 60º aniversário de morte do ator, um livro recupera seu encontro com o fotógrafo


CARLES GÁMEZ
Valência (Espanha) 30 SET 2015 - 17:07 COT


Quando o fotógrafo Dennis Stock levou à revista Life as fotos de James Dean, uma material que havia realizado ao longo de vários meses sobre o ator, os editores ficaram espantados. As imagens de um obscuro personagem caminhando sob a chuva pela Times Square, carregando nos braços um porco na chácara familiar ou parado no cemitério ante a tumba de um de seus antepassados eram bastante estranhas – e sombrias – para uma reportagem protagonizada por um ainda desconhecido ator de Hollywood. Setenta anos depois, aquelas fotos compõem um dos grandes mitos do século XX, a construção de uma iconografia que se perpetuou graças à moda, à publicidade e à música pop.
O livro James Dean: Dennis Stock (Thames & Hudson) reúne o encontro gráfico entre um jovem fotógrafo que trabalha em Hollywood para a agência Magnum e o ator que havia estreado na telona com Vidas Amargas, sob a direção de Elia Kazan, e emendado com Juventude Transviada, dirigido por Nicholas Ray. É exatamente o bangalô de Ray no hotel Château Marmont que serve de primeiro contato entre Stock e Dean numa das festas organizadas pelo diretor. Entre os dois surgiu uma cumplicidade imediata. Ao longo do inverno boreal de 1954, fotógrafo e ator entabulam uma estreita amizade, uma relação afetiva e profissional, tendo a partir de então a câmera de Stock como testemunha. As fotos acabam revelando o futuro mito juvenil, enquanto a figura de Dean cristaliza o trabalho de Stock como retratista.
Stock segue James Dean pelas ruas de Nova York, por Hollywood e pela chácara familiar situada em Fairmount, no estado de Indiana, centro de gravidade do encontro. As fotos da reportagem para a Life capturam o ator com familiares e amigos, acompanhado de seu primo pequeno Markie, nas paisagens de sua infância e adolescência. Passaram-se sete anos desde que Dean abandonou Fairmount e o sucesso o espera na próxima esquina. Agora, de volta aos campos gelados de Indiana, o ator se despe: um strip-tease emocional em meio a suas origens e raízes familiares. Stock retém em sua câmera esse mal de viver que parece acompanhar o ator e que só encontra felicidade vivendo outros personagens que não sejam o seu.
No início de março de 1995, a Life publica a reportagem de Stock com algumas das fotos de James Dean enquanto ocorre a estreia de Vidas Amardas. O filme transforma o ator na nova estrela de Hollywood, na esteira de Montgomery Clift e Marlon Brando. Seis meses depois, e semanas antes do lançamento de Juventude Transviada, o ator bate seu Porsche Spyder numa estrada da Califórnia. A morte desencadeia uma onda de necrofilia, fixando o mito do eterno adolescente. A adolescência como classe biológica se afirma frente ao mundo adulto e, ao mesmo tempo, rebela-se impondo seus códigos de indumentária. O ícone Dean imortaliza a calça jeans e a jaqueta como os novos cânones da eterna juventude, prefigurando os futuros heróis do rock e seus cadáveres singulares.
A celebração do aniversário de morte do ator soma-se ao filme biográfico Life – que estreia em 27 de novembro – do realizador Anton Corbijn, que narra o encontro entre o ator e o fotografo Dennis Stock com a dupla de protagonistas Dane DeHaan (como Dean) e Robert Pattinson (Stock). O autor da festejada biografia do cantor de Joy Division, Control, revela a relação Stock-Dean a partir de uma intensa amizade marcada pela fugacidade e o desenlace, uma sessão fotográfica que acabará se transformando em lenda. Dennis Stock, morto em 2010, viajou à Tailândia depois da morte de Dean para entrar num mosteiro budista e ali permaneceu por mais de um ano. Com James Dean, terminava um capítulo de sua vida.
EL PAÍS