quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Rubem Fonseca / Sopa de pedra



Rubem Fonseca
BIOGRAFIA

SOPA DE PEDRA

Um escrevia o nome da mulher amada com letras de macarrão

Enquanto a sopa esfriava no prato.

Outro era metade solidão e metade multidão.

Estou de olho neles.

Um andava com a espada sangrenta na mão.

Outro fingia que sentia o que de verdade sentia.

Este dizia que não cabe no poema o preço do feijão.

Estou de olho neles.

Este vê a vida como origem da sua inspiração,

A vida que é comer, defecar e morrer.

Todo poeta é maluco.

Estou de olho neles.

E também tem que ser maluco o pintor

E o músico e o prosador.

A loucura é muito boa.

Para todo o criador.

Mesmo para os cozinheiros

Ou qualquer inventor.

Estou de olho neles.

É melhor ser capenga do que cego.

A poesia é uma sopa de pedra.

Cabe tudo dentro dela.




Rubem Fonseca
Amálgama
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2013



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